Salaam, Ça Va!

BEM VINDO aquele que vem colaborar. Discutir, propor, meter o nariz onde - por culpa minha - não foi chamado.

domingo, 8 de novembro de 2009

...respondendo a um amigo...



Diga lá povo!

TÁ AI, um amigo meu me fez uma pergunta que rende panos para manga: a Revolta de Nikka (532 d.C) pode ser considerada uma jacquerie? Antes, devemos lembrar que infelizmente falamos pouco de história Oriental, mesmo que da cristandade oriental. De acordo com as Gestas justinianas, a revolta aconteceu após a derrota do cavalo Nika (o preferido do povão). Aparentemente a vitória foi, o que no jargão de hipódromos, seria uma close call (em bom português, por um cabelinho de sapo). A insatisfação pela escolha do cavalo de Justiniano foi o estopim da revolta, que acabou por matar 30.000 pessoas.
CONVENHAMOS que por a culpa de tantas mortes em um cavalo é uma ingenuidade grande. Há assuntos mais profundos...Há, de fato, na sociedade bizantina um profundo sulco que a divide. As disputas mais intensas referiam-se aos proprietários de grandes lotes de terra e ligados à ortodoxia (partido Azul, que apóia o Basileu) e os pequenos proprietários e artesãos urbanos, ligados às heresias (o partido Verde - de Nika!). As reformas justinianas (uma das mais famosas foi em 527, o fechamento das escolas filosóficas de atenas e conseqüente expulsão das correntes heréticas) foram bastante prejudiciais para os setores urbanos e acabaram por erguer uma nobreza bastante forte. A Revolta veio como a consolidação de uma situação já bastante desgastada; os setores urbanos sentem-se amplamente prejudicados INCLUSIVE nos esportes! é um absurdo...
QUANTO A PERGUNTA, ou seja, se foi ou não uma jacquerie, há duas respostas: especificamente o termo não pode ser aplicado porque foi anterior (as primeiras são marcadas do século XII) e porque não foi de setores camponeses. Mas, em um espectro maior, sim: trata-se de uma sedição de caráter nativista (e não emancipacionista), o que contribuiu para a supressão rápida e bastante violenta.


* Uma coisa interessante é que o símbolo do cavalo era o símbolo da deusa Niké, cuja imagem mais famosa é a Niké de Samotrácia. Este símbolo representa as asas dela, e normalmente era associada a boa sorte e vitória no campo de batalha.

3 comentários:

Por Afonso Bezerra disse...

Ah, querido. Valeu mesmo pelo esclarecimento.

O que gosto muito em História Medieval é fazer essas relações dos movimentos - suas influências - e tentar encontrá-los na faixa do tempo. É mágico quando encontramos a conexão de cada fato e saímos desse senso comum de falar, apenas, que a IM ficou refém da Igreja, com economia feudal e sem muito progresso. Há muito o que se entender sobre essa época, principalmente nos ares orientais.

Valeu, Albino!!!

Por Afonso Bezerra disse...

Albinão, cara.
Fugindo um pouco de Idade Média, tu poderia comentar um pouco sobre o pensamento de Theodor W. Adorno?

Dizem que é uma das mais complexas teorias do Século XX...Pois, insira esse camarada no contexto Histórico e deixo-o um pouco transparante pra gente, querido.

Abração, meu filho!!!!!!

Art Art disse...

Uma guerra por causa de um cavalo... bizarro! post interessante albino, abração